“Ninguém fica para trás” foi um título que andou recentemente nas televisões e jornais do País.
O assunto disse muito a muita gente. Os veteranos de guerra que restam são estimados em cerca de 700.000.
A SIC e a revista VISÃO acompanharam, em exclusivo, esta operação sem precedentes, que levou para o mato de Guidage – povoação onde se situava um antigo quartel português – quatro antropólogos, uma arqueóloga, um geofísico, e quatro militares que combateram naquela região, há 35 anos, durante a guerra colonial.
As campas foram descobertas graças a um velho mapa, e ao equipamento do geofísico, que rapidamente detectou sinais no subsolo.
À medida que as escavações avançaram, confirmou-se a presença dos esqueletos daqueles soldados, que a 23 de Maio de 1973 tombaram em combate, de outros cincos militares portugueses e três guineenses».
[1]
Está claro que… “para quem passou por lá” …esta notícia disse muito!
Os 3 paraquedistas que morreram há 35 anos regressaram agora às suas terras natais. Finalmente tiveram eles - as suas famílias - direito a um funeral. Com honras militares e com o preito e homenagem de antigos combatentes.
Nas imagens e notícias que vimos e lemos além dos familiares estiveram também presentes o Secretário de Estado da Defesa, João Mira Gomes, e o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas , Valença Pinto.
Soube-nos a pouco mas se calhar o “defeito” é nosso! As memórias da Guerra do Ultramar já só “mexem” com alguns….Dizemos nós.
O mapa que o “Correio da Manhã” publicou na sua edição de 27 de Julho último “mexeu” particularmente connosco por diversas razões .
[1] O Início do ataque do PAIGC ao quartel de Guidage, no Norte da Guiné deu-se em 8 de Maio de 1973.
Na operação de auxílio, reabastecimento e contra-ofensiva, que durou de 8 de Maio a 8 de Junho de 1973, as forças portuguesas tiveram 39 mortos e 122 feridos. Pelo menos seis viaturas militares de vários tipos foram destruídas e foram abatidos três aviões (um T6 e dois DO27). Só a unidade de Guidage contabilizou sete mortos e 30 feridos, todos militares. Nos cerca de 20 dias que ficou cercada, Guidage esteve sujeita a 43 ataques com foguetões de 122m/m, artilharia e morteiros. Todos os edifícios do quartel foram danificados. A unidade, que, no conjunto, teve mais mortos foi o Batalhão de Comandos: dez. Sofreu ainda 22 feridos, quase todos graves, e três desaparecidos".
Cumprimos serviço militar durante cerca de 2 anos exactamente na região de Binta e Guidage e por dever de ofício – éramos então o Furriel Miliciano Enfermeiro da C.Caç. 675 – estivemos envolvidos numa trágica tarefa.
A recuperação dos corpos de 7 militares do Pelotão de Morteiros 980, de Farim, que, por acidente durante uma operação ,morreram afogados no Rio Cacheu, a poucos quilómetros do aquartelamento de Binta.
Um dos corpos - ou melhor dizendo o pouco que dele restava depois de uma semana submerso numa zona do rio infestado de crocodilos – foi sepultado a sul de Binta.[2]
Recordamo-nos que junto do corpo, sepultado num improvisado caixão, deixámos (dentro de uma garrafa de vidro) um documento preenchido com alguns elementos de identificação .
A identificação tinha sido então feita por alguns objectos pessoais encontrados nos bolsos das calças do militar.
A ideia – aliás prevista nos regulamentos militares – era a de que, para o caso de um dia mais tarde se proceder à remoção das ossadas ( para se proceder a um funeral condigno) se soubesse a identificação do militar.
Ao que sabemos até hoje ainda não aconteceu.
Todas estas (traumáticas) recordações nos assaltaram depois da notícia da recuperação das ossadas dos 3 paraquedistas de Guidage.
Ninguém fica para trás!?
Infelizmente alguns ficaram.
A recente saga dos paraquedistas de Guidage poderia – e deveria – ser o mote para os representantes do Estado Português tratarem com os governos da CPLP(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) da transladação condigna dos restos mortais dos militares que “caíram” em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.
Custará dinheiro? Obviamente.
O nosso Ministério da Defesa não terá disponibilidades para tal!? Sabemos a resposta antecipadamente…Mau grado o interesse …por constrangimentos orçamentais…etc., etc.
Deixamos uma sugestão. Que , neste momento, só nos obriga a nós.
Nos últimos 3 anos os antigos combatentes têm recebido uma pensão anual de cerca de 150 euros (cerca de 40 cêntimos por dia…),[3] pensão essa que deverá vir a ser alterada em futuro próximo conforme recente proposta de Lei do Governo. Vamos portanto –os antigos combatentes – ser “contemplados” com alguns cortes orçamentais. “Coisa” que não será propriamente uma surpresa…
A nossa sugestão é a seguinte. Já que estão com “a mão na massa” acabem com o resto e apliquem os valores disponíveis para pagar uma “divida de honra” que têm com os antigos combatentes .
(2)
Pela consulta do livro «Mortos em Campanha», Tomo II – Guiné-Livro 1 da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África (1961-1974), viemos – depois de tantos anos passados -a recordar a sua identificação:
6- João Jota da Costa, soldado nº. 3021/63. Está sepultado no Cemitério a Sul de Binta – Margem esquerda do Rio Cacheu.Observações- Sepultado pela tripulação da LDG «Orion».
(3)
Lisboa, 03 Ago (Lusa) –
A proposta de lei do Governo de alteração dos benefícios atribuídos aos antigos combatentes vai fazer com que nove em cada dez fiquem substancialmente a perder, disse hoje o deputado do CDS/PP João Rebelo.
João Rebelo reagia assim à posição do Governo, expressa pelo secretário de Estado da Defesa, João Mira Gomes, que afirmou hoje que a proposta de lei relativa aos benefícios atribuídos aos antigos combatentes não visa reduzir direitos, mas alargar os beneficiários, acusando Paulo Portas de usar esta matéria para "lutas político-partidárias".
No entanto, João Mira Gomes disse à Lusa que a proposta de lei visa "alargar o universo de beneficiários, introduzir critérios de justiça relativa e criar condições de sustentabilidade financeira para estes benefícios. Qualquer matéria sobre os antigos combatentes deve reunir um largo consenso político e não ser usada para lutas político-partidárias".
Por sua vez, João Rebelo relembrou o Executivo de que "o Doutor Paulo Portas foi o primeiro a dizer que a Lei dos antigos combatentes não devia ser revista por maioria, mas sim por consenso, como questão nacional que é".
Além disso, destacou que "não nos parece adequado", que quase 300 mil antigos combatentes "vão perder cerca de 45 euros ou mais "na pensão que custou a consagrar", enquanto apenas cerca de 30 mil, "os que tiveram menos tempo no Ultramar, consolidem alguns euros nessa pensão".
JS/JPD
Lusa/Fim
Há mais de 30 anos que muitas famílias portuguesas esperam o regresso dos seus soldados, da guerra colonial. O Estado português enviou-os para a frente de combate, mas não resgatou os corpos de quem morreu na guerra.
Providenciem pelo seu regresso.
Para que um dia... possamos dizer...finalmente:
Ninguém ficou para trás.
JERO
NOTAS:
1.ª - O texto em causa é de autoria do nosso associado e futuro dirigente José Eduardo Reis de Oliveira, e encontra-se publicado na PÁG. 9 da EDIÇÃO N.º 2192 - ano LXIII, do Jornal "O ALCOA", de 25-09-2008
2.ª - Segundo nos foi informado, a posição da Liga dos Combatentes, neste processo foi de mera espectadora. Todo o trabalho foi desenvolvido pela associação de Para-quedistas, sendo o Exmo Senhor General Avelar de Sousa a força motriz.
Também, segundo nos foi informado, as exéquias só não decorreram no Mosteiro dos Jerónimos porque a Liga a isso se opôs.
1 comentário:
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